quinta-feira, 13 de setembro de 2018

José Aldo: Boxe

TREINAMENTO: Preparação física pela manhã e boxe e kickboxing à noite.


Quando e por que começou a treinar para lutar? Eu comecei a treinar porque eu queria lutar.


Quais graduações e conquistas você possui? Ex-campeão peso-pena do UFC, ex-campeão peso-pena do WEC, tetracampeão brasileiro de jiu-jitsu, campeão mundial de jiu-jitsu e faixa preta em jiu-jitsu.


Você tem algum herói? Mike Tyson.


Qual é sua técnica favorita? Chave de braço.


O que significa para você lutar no UFC? É uma grande honra e oportunidade.


Qual era seu emprego antes de começar a lutar?Eu jogava futebol.
• Invicto no WEC (8-0, sete vitórias por nocaute);


• Derrotou Alexandre Nogueira, Jonathan Brookins, Cub Swanson, Mike Brown, Urijah Faber e Manny Gamburyan no WEC;


• Conquistou o título do WEC em novembro de 2009 - o defendeu duas vezes;


• Primeiro campeão peso-pena do UFC, recebendo o cinturão em novembro de 2010;


• Conseguiu defender seu cinturão por sete vezes consecutivas;


• 15 vitórias por nocaute, uma por finalização (um triângulo de mão);


• A derrota para Conor McGregor interrompeu uma sequência de 18 vitórias. Antes do revés, não perdia desde 2005;


• Três prêmios de Nocaute da Noite no WEC (Rolando Perez, Cub Swanson, Mike Brown).


Década de 90 no bairro da Alvorada, em Manaus. Na abafada capital amazonense, "Caroço" e "Açaí" caminhavam pelas ruas de chinelos, jogavam futebol e andavam de bicicleta. Eram inseparáveis. Em função da semelhança física, todos achavam que os primos de primeiro grau eram, na verdade, irmãos. Aos 13 anos, Açaí, que, na verdade, chama-se André Luiz, ganhou uma bolsa para treinar na academia de Márcio Pontes, em Manaus. No embalo, Caroço – cujo nome de batismo é José Aldo da Silva Oliveira Junior – aproveitou a carona. Assim, o jiu-jítsu começava a delinear o caminho de José Aldo.

– Os dois eram muito parecidos, e eu até brincava: "A família de vocês é grande para caramba (risos)". Quando a carreira foi tomando outra proporção, ele teve que contar a história dele, que só tem duas irmãs. Anos depois, na época do WEC, soube que ele não tinha irmão. Falei: "Bicho, me enganou esse tempo todo?", e ele respondeu: "Eu não tinha como contar" – relembra Marcinho, primeiro professor de José Aldo, o hoje campeão peso-pena do UFC, em entrevista ao Combate.com.


A falta de dinheiro na casa dos pais de José Aldo foi a primeira das barreiras que ele precisou driblar para participar dos campeonatos. Pontes se desdobrava para colocá-los nas competições, até mesmo trocando a inscrição por frutas típicas da Amazônia.


– Trabalhei como ambulante no centro de Manaus vendendo tucumã, e o presidente da federação gostava muito dessa fruta, assim conseguia liberar as inscrições. Uma vez, ele falou que só liberaria se o Junior fosse lá e levasse uma palmatória. Se aguentasse era porque merecia lutar (risos). São situações cômicas, e o Junior lembra disso de forma bem engraçada. Olha ao que ele se sujeitava para lutar nos campeonatos. Eram tempos difíceis. Às vezes, se não tinha o que comer na casa dele, eu o levava para a minha casa, fazíamos um macarrão. Nas festas de fim de ano, conseguia para ele uma camiseta e uma bermuda com os alunos que tinham poder aquisitivo um pouco maior.


Manauaras mantêm contato, mesmo morando
em lugares diferentes (Foto: Arquivo Pessoal)

A fome de aprender transcendia o espaço da academia. Aldo procurava treinos em outras equipes para sugar tudo o que pudesse em termos de técnicas e posições. A vontade de aperfeiçoar a arte suave impressionava. Inovar também – ainda que fosse para se destacar de outra forma.


– Ele tinha o feeling para brilhar, sempre queria fazer algo diferente. Uma vez pediu para eu pegar a máquina e fazer uns triângulos naquele cabelo ruim. Todo mundo começou a botar apelido, a chamá-lo de cabeça de bola, cabeça de xadrez. Durante esse período eu comecei a fazer judô, a lutar campeonato. Ele assistia e começou a fazer também. Sempre gostou de desafios, sempre foi competidor. Do Junior do início ao José Aldo, ele tem todos os méritos, porque quis muito vencer.


Transbordando talento para o jiu-jítsu, José Aldo decidiu abandonar os estudos e se dedicar à carreira como lutador. Seu sonho era ser campeão mundial, pois, à época, o Vale-Tudo não tinha o glamour – e as cifras – da atualidade. Foi aí que, em 2004, a peça-chave da sua carreira se fez presente. O conterrâneo Marcos "Loro" Galvão, a quem conhecera em Manaus, abriu-lhe as portas do Rio de Janeiro.


Quatro anos mais velho que José Aldo, "Loro" havia se transferido para a Nova União, academia que ficava em um sobrado na Praia de Botafogo, Zona Sul do Rio. Lá, dormia no mesmo tatame que pela manhã servia para treinar. A comida era escassa, e as condições, precárias, mas a vontade de vencer falava mais alto. O espírito era o mesmo que movia José Aldo.


– Ele me ligou perguntando se poderia ir para o Rio. Falei que sim, e no dia seguinte ele apareceu lá. Colocou as coisas dele dentro de uma bolsa, botou nas costas e foi embora para o Rio. Sempre fui um cara que ajudava todo mundo, mesmo na guerra. Onde come um, comem dois.


Conseguir um prato de comida parece banal para Aldo e "Loro" – campeões do UFC e Belaltor, respectivamente. Naqueles tempos, porém, costumavam dormir até mais tarde para abreviar uma refeição, pelo simples fato de que não havia o que comer.


– Muita gente não sabe o que passamos. Havia dias que não tínhamos dinheiro para tomar café, almoçar e jantar. Acordávamos na hora do almoço para pular o café. Era almoçar e se virar para jantar. Dormíamos no tatame. Era sinistro, porque tínhamos que acordar cedo. Era ralação, não tinha estrutura, muito menos luxo. Era tudo humilde. Se tinha marmita para mim, eu rachava com ele, não tinha essa – declarou Aldo, que percorreu a pé a considerável distância entre o Aeroporto Santos Dumont e a academia, por falta de dinheiro.


Os tempos eram difíceis a ponto de a distração da dupla ter sido conversar da janela, olhando os carros cortarem a rua. Compartilhavam sonhos, frustrações e planos. A amizade se estreitou a ponto de "Loro" ser escolhido como padrinho de casamento de José Aldo anos mais tarde. Apesar da distância geográfica – o amigo hoje vive em Nova York, enquanto Aldo segue no Rio –, a gratidão do campeão do Ultimate atravessa fronteiras.

Marcos Loro foi quem abriu as portas para José Aldo se mudar para o Rio de Janeiro (Foto: Arquivo Pessoal)


– O "Loro" foi um cara que me sustentou, foi um grande incentivador para eu estar bem hoje em dia. Agora é fácil falar do campeão, mas nunca esqueci dos perrengues por que passei e nem dos que estiveram ao meu lado – recorda Aldo, casado com Vivianne Oliveira e pai de Joana, de três anos.


Para muitos fãs, é difícil imaginar que José Aldo, famoso mundialmente e dono de uma boa condição financeira, viveu momentos sombrios. Para quem custa a acreditar, o próprio campeão do UFC relata o drama e as incertezas de um tempo bem longe da fama.


– Foi duro largar o conforto familiar, a minha cama, a minha casa. Abdiquei de tudo isso para dormir em cima de um tatame. Quando todo mundo ia embora da academia, ficávamos o "Loro" e eu olhando os carros da janela. Nós nos perguntávamos: "Isso vai dar certo? Esse é o caminho certo?" Acordei várias vezes de manhã chorando, sem saber por que estava ali, num lugar sujo, ruim. Bem no fundo do coração eu falava que estava no caminho certo, fazendo por onde, que isso um dia ia virar, assim como virou. Aqueles tempos foram difíceis, mas foram importantes para a base que tenho, foram muitos ensinamentos bons. Se sou um campeão sólido e tomo determinadas decisões, é por causa de tudo que enfrentei no passado.

CICATRIZ: MARCA REGISTRADA

Não dá para disfarçar. Está, literalmente, na cara. José Aldo carrega no lado esquerdo do rosto uma cicatriz que remete à infância - mais precisamente - a um acidente doméstico. Em uma brincadeira com as duas irmãs, José Aldo - cujo apelido também é "Scarface" (rosto com cicatriz, em inglês) - caiu sobre uma grelha quente da churrasqueira. Dali em diante, seu rosto - que necessitou de enxerto - nunca mais seria o mesmo.


- Eu sei que era Copa do Mundo e, pelo que minha mãe e minha tia falam, estava rolando um churrasco. O Junior se desequilibrou e caiu na churrasqueira. Eu não lembro do dia exato, porque eu era pequeno, mas lembro que a boca dele ficou torta por conta da queimadura. Quando foi crescendo, melhorou - comenta André Luis, primo do atleta, a quem classifica como "tranquilão e divertido".


Marcas do acidente doméstico estão gravadas na face do lutador brasileiro (Foto: Evelyn Rodrigues)


Na adolescência, André revela que José Aldo pensava duas vezes antes de participar de algumas "armações" temendo ser facilmente identificado.

- A gente passava trote, mas ele não gostava porque ficava bolado de ser reconhecido pela cicatriz do rosto. Ligávamos para lanchonetes e, quando o entregador chegava, a gente pulava o muro e ia para outra casa.

FAMA NÃO SOBE À CABEÇA

Apelidado de "Campeão do Povo", pela simplicidade, José Aldo tem a humildade atestada por Márcio Pontes. O treinador, quando vem ao Rio de Janeiro, fica hospedado na residência do atleta, no Flamengo, bairro da Zona Sul. Nas coletivas de imprensa, de fato, Aldo está sempre vestido à carioca: bermuda e chinelo. Pede desculpas pelos palavrões proferidos com alguma frequência durante entrevistas, recheadas de sinceridade. Parece não se habituar à rotina de uma celebridade. Anda de metrô, acompanha os jogos do Flamengo da arquibancada do Maracanã e conserva os amigos mais antigos.

- Ele é a mesma pessoa, não perdeu a essência. É humilde, anda de chinelo, bermuda e camiseta. Se for para comer ovo com feijão, vai comer. É um cara sorridente, acolhedor, brincalhão, a quem sacaneio muito. Ficamos contando histórias antigas, relembrando de situações engraçadas, rindo para caramba. O saboroso disso tudo é estar em uma situação diferente hoje e lembrar do que passamos.

O relacionamento com a imprensa é amistoso. Entretanto, possivelmente, devido ao aumento da demanda, a facilidade para fazê-lo conceder uma entrevista não é a mesma da época em que era coadjuvante de Anderson Silva, Vitor Belfort e Mauricio Shogun, por exemplo. Virou protagonista e, portanto, mais requisitado.

DO VALE-TUDO AO MMA
Campeão mundial de jiu-jítsu pela CBJJO na faixa marrom, José Aldo migrou para o Vale-Tudo em 2004. Ele estreou em Manaus, no Eco Fight Championship, contra Mário Bigola, a quem nocautearia em 18 segundos. O problema é que Aldo morava no Rio de Janeiro e seu treinador, Márcio Pontes, precisou se desdobrar para comprar a passagem de avião.

Ciente do esforço que o técnico havia feito, Aldo demonstrou sua gratidão ao professor, dividindo parte de sua bolsa.

- A bolsa era irrisória em relação a hoje, mas o Junior disse: "Pega a metade para você não sair no prejuízo. Você acreditou e gastou um dinheiro que nem tinha". Eu falei: "Não esquenta a cabeça", mas ele me deu a metade da passagem, que era cara.

Luciano Azevedo encaixa mata-leão para vencer José Aldo: única derrota da carreira do peso-pena do UFC (Foto: Reprodução SporTV)

Começava, ali, uma das trajetórias mais bem sucedidas do esporte. Foram seis vitórias no primeiro round – quatro por nocaute e duas por finalização. A única derrota do cartel de Aldo viria três anos depois, no Jungle Fight, quando ele caiu no mata-leão de Luciano Azevedo.


O estilo agressivo de José Aldo ficou internacionalmente conhecido quando ele estreou no WEC, contra Alexandre Pequeno, o “Rei da Guilhotina”, então com 19 combates na carreira. Era o duelo entre um novato e um veterano, ambos do Brasil.


O que se viu na 34ª edição do WEC foi um massacre de José Aldo – apenas uma promessa da Nova União, equipe que contava com integrantes tarimbados, como Vitor Shaolin. O manauara venceu Pequeno por nocaute técnico no segundo round.


Na sequência, seis vitórias por nocaute e uma por pontos fizeram explodir a fama de matador do manauara. A joelhada voadora em Cub Swanson, no WEC 41, mostrou a Mike Brown, então campeão dos penas, o que o aguardava. Em novembro de 2009, Aldo desbancou o americano ao batê-lo por nocaute técnico no segundo round e faturou o cinturão.


No WEC, Urijah Faber foi o único a resistir três rounds com o brasileiro, em abril de 2010, na edição 48. Apesar de “sobreviver”, o americano entrou para a história do duelo por ficar com a coxa completamente roxa ao ser atingido pelos temidos chutes do oponente.

Após vencer Chad Mendes pela primeira vez, no Rio de Janeiro, lutador da Nova União comemorou com o público (Foto: Acervo)

Quando o UFC absorveu o WEC, José Aldo fez sua primeira luta pela organização defendendo o cinturão dos penas – categoria que não existia no Ultimate – contra Mark Hominick, no Canadá. O brasileiro, como de costume, faturou a vitória em duelo marcado pelo enorme galo cravado na testa do anfitrião.

Das seis lutas seguintes – incluindo a vitória tranquila sobre Frankie Edgar, ex-campeão dos leves – as duas contra Chad Mendes foram as mais marcantes. A primeira pelo desfecho: uma joelhada certeira a um segundo do fim do primeiro round, acompanhada de uma comemoração tresloucada, quando Aldo pulou o octógono e, literalmente, foi para a galera.

O reencontro em outubro do ano passado, na última vez em que Aldo pisou no cage, foi mais duro. Chad Mendes vendeu caro a derrota por unanimidade, balançando o campeão, que mostrou não ocupar à toa o posto de número 1.

Fonte: UFC, Globo

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