segunda-feira, 1 de julho de 2019

Artigo: a neurociência e os benefícios da prática do Jiu-Jitsu para o cérebro humano.

Por Mônica de Paula Silva

A capacidade que o cérebro humano tem de se adaptar à mudanças é extraordinária. Antes de começar a explicar os benefícios que este órgão humano recebe através das lutas marciais, vamos entender essas duas ciências: a neurociência é o estudo científico nervoso que permite entender como funciona o cérebro humano e a neuroplasticidade é a capacidade que o cérebro tem de se adaptar à mudanças. Todas as ciências humanas, sociais e da saúde que lidam com a natureza humana são afetadas, bem como todas as formas de treinamento. Por esse motivo, não podemos deixar de fora as artes marciais. Todas essas disciplinas terão de aceitar o fato de que o cérebro se transforma e que a arquitetura cerebral difere de uma pessoa para outra e se altera no decorrer da vida de cada indivíduo.

Sabe-se que são inúmeros os benefícios do Jiu-Jitsu para o desenvolvimento humano, porém, a contribuição da neurociência e da neuroplasticidade nos traz um novo olhar. Como o cérebro do lutador reage a esses treinos?  Ao praticar os exercícios relacionados à modalidade, o cérebro secreta neurotransmissores como a dopamina e a acetilcolina, que ajudam a consolidar as mudanças no mapa cerebral, (a dopamina reforça a recompensa e a acetilcolina ajuda o cérebro a sintonizar e aguçar a memória, (Doidge pag.85), que promovem a reparação celular do cérebro, melhorando a memória (hipocampo), aumentando a concentração e gerando neurônios fundamentais para o processo de aprendizagem.

Algumas das vantagens do Jiu-Jitsu são a atenção e os reflexos que são usados no momento do treino, como explica Merzenich (neurocientista) que prestar atenção é essencial para a mudança plástica de longo prazo e que essas mudanças são duradouras no cérebro humano e quando as atividades são realizadas automaticamente, sem prestar atenção, as mudanças não são duradouras. Por esse motivo, os estímulos que o Jiu-Jitsu nos oferece é de grande importância.



O cérebro do lutador tem um dos processamentos mais admiráveis, Segundo, Spiegelman, especialista em ciência dos exercícios, um dos benefícios do Jiu-Jitsu para a mente é que ele exige concentração e equilíbrio absoluto. O professor de Jiu-Jitsu Wilson Franck afirma que durante vinte anos de carreira, percebe-se calmo e atento em várias situações conflitantes em seu cotidiano e conclui que, depois de cada treino, se sente menos ansioso e mais apto a tomar decisões em situações estressantes, pois os desafios ao treinar Jiu-Jitsu resultam em melhorias na área cerebral (Pré – frontal), responsável pela tomada de decisões, melhorando a capacidade na realização de várias tarefas. Sendo assim, os ganhos nas áreas cerebrais são inúmeros.

Não podemos deixar de acrescentar a filosofia (espiritualidade) dos praticantes de Jiu-Jitsu, a tradição do Buda (Caminho das Artes Marciais), onde eles ouvem mensagens de cunho espiritual em seus meios, pois é inegável que as tradições espirituais sempre fizeram parte da cultura dos samurais, a máxima era: quanto mais Guerreiro, mais espiritualizado. E como o cérebro recebe esse estímulo? Inúmeras pesquisas mostram que budistas, por exemplo, tem a atividade dos lobos frontais aumentada. Essas áreas estão relacionadas com o aumento da atenção focada, habilidades de planejamento, capacidade de antecipar o futuro e a habilidade de construir argumentos complexos.

Cientistas que fizeram várias descobertas nas últimas décadas, mostrando que, a cada atividade realizada, o cérebro muda a própria estrutura. Além de melhorar a autoestima, nos mostra que ganhar uma luta muda a química do cérebro, tornando-o mais focado, mais inteligente, mais confiante e mais agressivo, no bom sentido. O efeito é tão forte quanto o de uma droga. A desvantagem é que a vitória pode se tornar fisicamente viciante, afirma Ian Robertson, mas isso é tema para um próximo artigo. 

Mônica de Paula Silva

Psicopedagoga e Neuropsicopedagoga
Fonte: Tatame

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